DESAFIOS DA EDUCAÇÃO
NO BARSIL CONTEMPORÂNEO
ROBERTO ZACARIAS (PEDAGOGO)
Historicamente a educação é
permeada por uma diversidade de questões de ordem política, ideológica e
econômica que perpassam a educação e acabam sendo incorporadas e legitimadas
pela sociedade (capital/poder/ cultura da classe dominante, etc), além das
questões que lhe são próprias e inerentes. Nesse espaço complexo e dinâmico o
professor exerce sua prática profissional, que antes de tudo deve ser uma
prática social com comprometimento político, com especificidades e competências
que são próprias desse profissional da educação.
A articulação entre as demandas
apresentadas pelo processo educativo e seus sujeitos e as diversas realidades
sociais e culturais está imbricada à prática pedagógica que vai então, exercer
uma mediação entre os processos de aprendizagem, a construção dos saberes, e
ainda a aplicação desses saberes de forma contextualizada.
Refletir sobre a educação e seus
problemas implica em refletir sobre seus valores e objetivos, sobre a
reformulação da ação educativa e ainda definir quais as prioridades tem sido
atribuídas à educação.
No Brasil contemporâneo, desde
as reformas neoliberais ocorridas no governo do Presidente Fernando Henrique
Cardoso, vivemos um momento complexo de políticas públicas educacionais
baseadas em ideologias neoliberais que atinge de forma expressiva a educação
brasileira, trazendo novos desafios para a construção de um ensino de
qualidade. A reforma liberal veio acentuar essa situação, ”afastando a grande
maioria da população do país do acesso ao conhecimento cientifico, tecnológico,
artístico, mais avançado” (LEHER,2003,p.47).
Esse empobrecimento da educação
vem de encontro ao modelo educacional que propõe o Banco Mundial, que visa a
ausência da atuação dos professores e pedagogos no processo de construção desse
modelo educacional. Nos documentos do Banco os professores e seus sindicatos
aparecem como obstáculos a serem removidos, ou caso não seja possível, que
sejam inseridos nos moldes do sistema capitalistas. Os sindicatos são
identificados como “grupos que podendo atrapalhar devem ser objeto de
compensação ou cooptação”.(LEHER,2003,p.49).
Nesse sentido há um movimento
direcionado a desarticular os sindicatos e desmoralizar os professores perante
a sociedade. É possível notar uma cuidadosa construção da imagem do professor:
corporativista, desqualificado, obsessivo por reajustes salariais,
descompromissado com a educação dos pobres, partidário da oposição, etc.
Para a implementação das
reformas neoliberais, além da construção de uma imagem negativa para os
professores, foram instauradas providencias concretas no sentido de exercer o
controle político-ideólogico de sua formação e da sua atuação profissional.
A flexibilização do trabalho
docente é destacada como um grande desafio para a reforma educacional. Para
alcançarem seus objetivos, os que defendiam tal flexibilização, procuraram
estrategicamente, enfraquecer a unidade entre os professores. Através de
gratificações criavam um clima de competitividade entre os docentes e a classe
foi acusada de corporativismo, implicando numa imagem negativa junto à
sociedade.
A partir de 1995, no governo
Cardoso criou-se um “currículo centralizado” possibilitando avaliações
centradas nos produtos e nos indicadores quantitativos, programas e material de
educação/ensino à distância. Intensificou-se o uso da força de trabalho por
meio de uma suposta revolução tecnológica, porém o principal objetivo de tais
inovações é o controle das atividades dos docentes, desarticulação da classe e
redução dos profissionais da área educativa, com o ensino virtual o professor
poderá atender a um numero cada vez maior de alunos.
Nesse cenário de política
neoliberal o MEC tem operado com um discurso que desconstroi os sentidos e os
significados da atividade docente, numa negação dos professores enquanto
sujeitos; precarizando a sua formação e promovendo o achatamento salarial. Para
o Mec a educação funcionará bem se as escolas tiverem computadores e aparelhos
de tv funcionando em detrimento de outras demandas especificas do setor.
Dentro dessa despreocupação com
a formação dos professores uma das ferramentas que mais tem sido usada é a
educação à distância como estratégia de aumentar as vagas nas universidades e
diminuir o tempo de formação dos docentes, porém com uma formação de má
qualidade. Exemplo disso são os discursos e entrevistas do então Ministro da
Educação Cristovam Buarque que se seguem:
“O
ensino à distância é uma forma de triplicar o acesso à Educação Superior. A mesma
revolução que trouxe o quadro negro – que possibilitou aumentar o número de
alunos para turmas de 40, 50 estudantes – e o microfone – que permite dar aulas
para 100 alunos – traz a informática, que elimina a necessidade dos alunos
estarem presencialmente nos locais de aula [...] Não é possível, diante de toda
essa revolução científica que estamos vivendo, continuarmos levando quatro anos
para formar um profissional.” (Discurso proferido na 69ª Reunião Plenária da
CRUB).
“A
expansão por meio do ensino à distância é possível, principalmente em áreas
onde há menos exigência de atividades práticas, claro que isso não pode ser
feito em medicina ou cursos que exigem muita atividade prática, mas em
licenciatura, que é o que mais nos interessa hoje, é perfeitamente possível”.
(Entrevista concedida ao jornal O Globo em 19/01/2003).
Embora a incorporação dessas
novas tecnologias nos processos de formação de professores pareça
modernizadora, ela viabiliza a ausência dos sujeitos e a desarticulação dos
mesmos, além de uma aceleração do processo de formação. A tecnologia deve ser
uma aliada dos processos educativos e não uma substituição desses mesmos
processos. Outra questão a ser amplamente discutida no âmbito da educação é a
reformulação das DCN’S para formação dos professores e pedagogos que alteram
sua atuação e identidade.
Neste contexto de transformação
da educação e da profissão docente, é importante a correlação de forças dos
sindicatos, associações de representação cultura e políticas na luta contra a
reestruturação da educação que vem de encontro aos interesses do capital. Há a
necessidade de se demarcar novamente o espaço e o papel do docente com um
compromisso ético e político.
REFERÊNCIAS:
LEHER, Roberto et al. Trabalho
docente e as reformas neoliberais. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade. Reformas
educacionais na América Latina e os trabalhadores docentes. Belo Horizonte:
Autêntica, 2003.
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