sábado, 1 de outubro de 2011


DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO BARSIL CONTEMPORÂNEO

ROBERTO ZACARIAS (PEDAGOGO)


Historicamente a educação é permeada por uma diversidade de questões de ordem política, ideológica e econômica que perpassam a educação e acabam sendo incorporadas e legitimadas pela sociedade (capital/poder/ cultura da classe dominante, etc), além das questões que lhe são próprias e inerentes. Nesse espaço complexo e dinâmico o professor exerce sua prática profissional, que antes de tudo deve ser uma prática social com comprometimento político, com especificidades e competências que são próprias desse profissional da educação.

A articulação entre as demandas apresentadas pelo processo educativo e seus sujeitos e as diversas realidades sociais e culturais está imbricada à prática pedagógica que vai então, exercer uma mediação entre os processos de aprendizagem, a construção dos saberes, e ainda a aplicação desses saberes de forma contextualizada.

Refletir sobre a educação e seus problemas implica em refletir sobre seus valores e objetivos, sobre a reformulação da ação educativa e ainda definir quais as prioridades tem sido atribuídas à educação.

No Brasil contemporâneo, desde as reformas neoliberais ocorridas no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, vivemos um momento complexo de políticas públicas educacionais baseadas em ideologias neoliberais que atinge de forma expressiva a educação brasileira, trazendo novos desafios para a construção de um ensino de qualidade. A reforma liberal veio acentuar essa situação, ”afastando a grande maioria da população do país do acesso ao conhecimento cientifico, tecnológico, artístico, mais avançado” (LEHER,2003,p.47).

Esse empobrecimento da educação vem de encontro ao modelo educacional que propõe o Banco Mundial, que visa a ausência da atuação dos professores e pedagogos no processo de construção desse modelo educacional. Nos documentos do Banco os professores e seus sindicatos aparecem como obstáculos a serem removidos, ou caso não seja possível, que sejam inseridos nos moldes do sistema capitalistas. Os sindicatos são identificados como “grupos que podendo atrapalhar devem ser objeto de compensação ou cooptação”.(LEHER,2003,p.49).

Nesse sentido há um movimento direcionado a desarticular os sindicatos e desmoralizar os professores perante a sociedade. É possível notar uma cuidadosa construção da imagem do professor: corporativista, desqualificado, obsessivo por reajustes salariais, descompromissado com a educação dos pobres, partidário da oposição, etc.

Para a implementação das reformas neoliberais, além da construção de uma imagem negativa para os professores, foram instauradas providencias concretas no sentido de exercer o controle político-ideólogico de sua formação e da sua atuação profissional.

A flexibilização do trabalho docente é destacada como um grande desafio para a reforma educacional. Para alcançarem seus objetivos, os que defendiam tal flexibilização, procuraram estrategicamente, enfraquecer a unidade entre os professores. Através de gratificações criavam um clima de competitividade entre os docentes e a classe foi acusada de corporativismo, implicando numa imagem negativa junto à sociedade.

A partir de 1995, no governo Cardoso criou-se um “currículo centralizado” possibilitando avaliações centradas nos produtos e nos indicadores quantitativos, programas e material de educação/ensino à distância. Intensificou-se o uso da força de trabalho por meio de uma suposta revolução tecnológica, porém o principal objetivo de tais inovações é o controle das atividades dos docentes, desarticulação da classe e redução dos profissionais da área educativa, com o ensino virtual o professor poderá atender a um numero cada vez maior de alunos.

Nesse cenário de política neoliberal o MEC tem operado com um discurso que desconstroi os sentidos e os significados da atividade docente, numa negação dos professores enquanto sujeitos; precarizando a sua formação e promovendo o achatamento salarial. Para o Mec a educação funcionará bem se as escolas tiverem computadores e aparelhos de tv funcionando em detrimento de outras demandas especificas do setor.

Dentro dessa despreocupação com a formação dos professores uma das ferramentas que mais tem sido usada é a educação à distância como estratégia de aumentar as vagas nas universidades e diminuir o tempo de formação dos docentes, porém com uma formação de má qualidade. Exemplo disso são os discursos e entrevistas do então Ministro da Educação Cristovam Buarque que se seguem:

“O ensino à distância é uma forma de triplicar o acesso à Educação Superior. A mesma revolução que trouxe o quadro negro – que possibilitou aumentar o número de alunos para turmas de 40, 50 estudantes – e o microfone – que permite dar aulas para 100 alunos – traz a informática, que elimina a necessidade dos alunos estarem presencialmente nos locais de aula [...] Não é possível, diante de toda essa revolução científica que estamos vivendo, continuarmos levando quatro anos para formar um profissional.” (Discurso proferido na 69ª Reunião Plenária da CRUB).

“A expansão por meio do ensino à distância é possível, principalmente em áreas onde há menos exigência de atividades práticas, claro que isso não pode ser feito em medicina ou cursos que exigem muita atividade prática, mas em licenciatura, que é o que mais nos interessa hoje, é perfeitamente possível”. (Entrevista concedida ao jornal O Globo em 19/01/2003).


Embora a incorporação dessas novas tecnologias nos processos de formação de professores pareça modernizadora, ela viabiliza a ausência dos sujeitos e a desarticulação dos mesmos, além de uma aceleração do processo de formação. A tecnologia deve ser uma aliada dos processos educativos e não uma substituição desses mesmos processos. Outra questão a ser amplamente discutida no âmbito da educação é a reformulação das DCN’S para formação dos professores e pedagogos que alteram sua atuação e identidade.

Neste contexto de transformação da educação e da profissão docente, é importante a correlação de forças dos sindicatos, associações de representação cultura e políticas na luta contra a reestruturação da educação que vem de encontro aos interesses do capital. Há a necessidade de se demarcar novamente o espaço e o papel do docente com um compromisso ético e político.







REFERÊNCIAS:

LEHER, Roberto et al. Trabalho docente e as reformas neoliberais. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade. Reformas educacionais na América Latina e os trabalhadores docentes. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

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