AVALIAÇÃO MEDIADORA NA PERSPECTIVA DE
JUSSARA HOFFMANN.
Roberto Márcio Zacarias - Pedagogo
No contexto atual da educação o
tema avaliação tem sido muito discutido e objeto de inúmeras pesquisas. A
autora Jussara Hoffmann aborda esse tema em seu livro Avaliação Mediadora: uma
prática em construção da pré-escola à universidade, fazendo uma análise de como
tem sido o processo avaliativo nas instituições educacionais, apontado
possíveis caminhos para o sucesso do processo avaliativo nas escolas.
A avaliação nas escolas está
sempre relacionada a provas e notas e seu objetivo principal é selecionar e
classificar os alunos. Hoffmann (2006) afirma que qualquer outro tipo de
inovação nessa área é visto com desconfiança por todos os agentes envolvidos no
processo educacional, inclusive pelos próprios professores.
“Não é um
comportamento que se observa apenas nos professores, porque toda a sociedade
vem se manifestando no mesmo sentido, ou seja, reagindo quando se fala em
abolir o sistema tradicional de realização de provas obrigatórias e atribuição
de notas e conceitos periodicamente, basicamente como uma rede de segurança que se constitui sem se refletir exatamente por
quê”. (Hoffmann,2006,p.18)
Portanto, romper com esse
paradigma requer uma mudança profunda em todo o processo educacional, começando
pela mudança na estrutura do processo avaliativo até a mudança de postura do
educador. É preciso abolir com a crença de que escola de qualidade é aquela que
mais reprova. Segundo Hoffmann (2006) “(...)
a crença no sistema tradicional de avaliação como responsável por uma
escola competente (...) não encontra respaldo na realidade com a qual nos
deparamos”. Uma escola de
qualidade é aquela que não apenas possibilita o acesso dos alunos à educação,
mas que também “lhe possibilite de fato o
acesso a outros níveis do saber.” Nesse sentido a mudança nos objetivos e
formas de avaliação se faz uma medida de fundamental importância.
A perspectiva da Avaliação
Mediadora não pretende por fim nas avaliações, mas propõe torná-las ferramentas
que possam proporcionar momentos de reflexões a respeito dos erros dos alunos. “(...) momentos de reflexão sobre as
hipóteses que vierem sendo construídas pelo aluno e não considerá-las como
definitivamente certas ou erradas.” Hoffmann (2006)
Seria então a interpretação do
erro, tornando-o objeto de estudo a fim de direcionar as intervenções
pedagógicas necessárias para superação de possíveis dificuldades apontadas
pelos alunos. A Avaliação Mediadora, então se consiste numa mudança no ato de
avaliar. Segundo a autora:
“Analisar teoricamente as várias manifestações dos
alunos em situação de aprendizagem
(verbais ou escritas, outras produções), para acompanhar as hipóteses que vêm
formulando a respeito de determinados assuntos, em diferentes áreas de
conhecimento de forma a exercer uma ação educativa que lhes favoreça a
descoberta de melhores soluções ou a reformulação de hipóteses preliminarmente
formuladas. Acompanhamento esse que visa ao acesso gradativo do aluno a um
saber competente na escola e, portanto, sua promoção a outras séries e graus de
ensino.” (Hoffmann, 2006,p.75)
Muda-se a forma de avaliar o
aluno, valorizando-o em todos os aspectos. Para tanto segue na ação avaliativa
alguns princípios citados pela autora:
- Oportunizar aos alunos muitos momentos de expressar suas idéias;
- Oportunizar discussão entre os alunos a partir de situações desencadeadoras;
- Realizar várias tarefas individuais, menores e sucessivas, investigando teoricamente, procurando entender razões para as respostas apresentadas pelos estudantes;
- Ao invés do certo/errado e da atribuição de pontos, fazer comentários sobre as tarefas dos alunos, auxiliando-os a localizar as dificuldades, oferecendo-lhes oportunidades de descobrirem melhores soluções;
- Transformar os registros de avaliação em anotações significativas sobre o acompanhamento dos alunos em seu processo de construção de conhecimento.
A mudança de postura do
professor torna-se fundamental nesse processo. A autora alerta para o fato de
que muitos professores “são coniventes com uma política de elitização do ensino
público e justificam-se através de exigências necessárias à manutenção de um
ensino de qualidade”, portanto não se pode mudar um sistema de avaliação mudar
a postura de quem avalia. Hoffmann afirma que os professores tendem avaliar
seus alunos da forma como foram avaliados nos cursos de formação, ou seja, como
aprenderam. “A prática vivida por ele enquanto estudante passa a ser o modelo
seguido quando professor.” Então, a mudança primordial deve acontecer nos
cursos de formação desses profissionais. Porém “o modelo que se instala em
cursos de formação é o que vem a ser seguido pelos professores que exercem o
magistério nas escolas e universidades”.
Na perspectiva da Avaliação
Mediadora o professor se torna também um parceiro do aluno e essa proximidade poderá
contribuir no processo de avaliação e aprendizagem do aluno. Na análise de
Hoffmann (2006) isso “(...)
exigirá compreender que a aprendizagem pressupõe experiências vividas pelos
sujeitos o que torna os elementos da ação educativa únicos e individuais em
seus entendimentos e desentendimentos apesar de sofrerem um mesmo processo
educativo”.
Para Hoffmann (2006) na avaliação
mediadora o professor deixa de buscar culpados para os fracassos escolares,
isso desperta um olhar e uma ação mais voltados para a relação dialógica da
avaliação, evoluindo para uma ação reflexiva e desafiadora em termos de
contribuir, elucidar, favorecer e troca de idéias entre e com seus alunos.
REFERÊNCIAS:
HOFFMANN,
Jussara. Avaliação Mediadora: Uma Prática em Construção da Pré-Escola à
Universidade. 26ª ed. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2006.