SIMAVE – SISTEMA MINEIRO DE AVALIAÇÃO
DA EDUCAÇÃO PÚBLICA
ROBERTO ZACARIAS - PEDAGOGO
O Sistema Mineiro de Avaliação
da Educação Pública, o SIMAVE, é responsável pelo desenvolvimento de programas
de avaliação integrados. Os resultados das avaliações realizadas servem de base
para responder às necessidades de planejamento e ações educacionais, servindo à
realidade da sala de aula e influenciando a definição de políticas públicas
para a educação em Minas Gerais.
Um dos objetivos do SIMAVE é
desenvolver programas de avaliação integrados cujos resultados forneçam
informações importantes para o planejamento de ações em todos os níveis do
sistema de ensino, além de apontar as prioridades educacionais tanto para
professores, especialistas e diretores quanto para os gestores do sistema.
Escolas das redes estadual e
municipal de Minas Gerais participam do Simave. Os alunos das primeiras séries
do Ensino Fundamental bem como os do 3º ano do Ensino Médio são avaliados. Três
diferentes programas compõem o Simave: o Proalfa, o Proeb e Paae.
O SIMAVE é uma avaliação em
larga escala, externa à escola, e tem como elemento base de seu processo de
avaliação o ensino que está sendo oferecido nos estabelecimentos escolares e
não o aluno. Embora algumas habilidades dos alunos sejam também apuradas na
avaliação em larga escala, o que se pretende, no entanto, é verificar se o
ensino com suas metas educacionais foram atingidos de forma eficiente. E
principalmente, se o que foi ensinado aos alunos está de acordo com uma
concepção atualizada de alfabetização, leitura e escrita.
“Avalia-se sempre para agir. Mesmo as pesquisas pedagógicas feitas
independentemente da avaliação escolar corrente têm, em geral, o objetivo de
orientar uma inovação, fundamentar uma defesa pró ou contra tal reforma, aumentar
a eficácia do ensino ou da seleção. A avaliação corrente praticada pelos
professores pode igualmente ser utilizada para fins de gestão do sistema em um
duplo sentido: - de um lado, o ajuste periódico do currículo, das exigências,
das normas de admissão, das estruturas – de outro, o controle do ensino e do
trabalho dos professores.” (PERRENOUD, 1999, p.53).
Perrenoud
(1999) aponta alguns aspectos importantes a serem observados quando se trata de
avaliação de larga escala e a análises e uso de seus resultados: a) fazer
evoluir o funcionamento dos estabelecimentos em direção a uma autoridade
negociada, uma autonomia substancial, resultante de uma real responsabilidade;
b) favorecer a cooperação entre professores em equipes pedagógicas ou em redes;
c) agir sobre todos os parâmetros (estatutos dos professores, formação, gestão)
que aumentam o grau de profissionalização do professor e das profissões
conexas.
O
SIMAVE assim como uma avaliação feita em sala de aula pelo professor deve estar
a serviço da aprendizagem do aluno, assim esse tipo de avaliação também deveria
ter um caráter diagnóstico e não de simples certificação e classificação da
escola em um “ranking” específico. Deve provocar reflexões que promovam ações
pedagógicas, novos planejamentos e adaptação de programas de ensino, definição de novos rumos do
processo de ensino e aprendizagem, além da elaboração de projetos e
intervenções visando sanar as dificuldades apresentadas nessa avaliação para se
aproximar cada vez mais de um ensino de qualidade.
“A
contradição entre o espírito formativo e o espírito certificativo não pode ser
suprimida por mágica, mas será tanto mais suportável quanto mais se desenvolver
uma pedagogia diferenciada eficiente. O mecanismo prioritário não é de suprimir
toda avaliação somativa ou certificativa, mas o de criar condições de
aprendizagens mais favoráveis para todos e inicialmente para os mais
necessitados”.(PERRENOUD, 1999, p165).
Por meio dos resultados
apresentados pelo SIMAVE a equipe escolar (professores, diretores, pedagogos),
pais e até mesmo os alunos poderão pensar e promover ações educacionais no
âmbito da escola em que possam ser verificadas as demandas de formação
continuada dos professores, assim como garantir a igualdade de oportunidade aos
alunos à educação básica de qualidade.
“Se
em educação se deve incessantemente fazer retomadas, isso acontece em razão da
constante tentação de esquecer a complexidade para acreditar em uma mudança
rápida e limitada da escola. Essa tentação é compreensível: se aceitamos a
abordagem sistêmica, avaliamos a impossibilidade de mudar radicalmente as
práticas de avaliação sem fazer evoluir o conjunto da profissão de professor e
da organização escolar, o que distingue ainda mais a realização das idéias e de
modelos sedutores.” (PERRENOUD, 1999, p158)
“Não se faz avaliação formativa sozinho, porque apenas se pode
avançar nesse sentido modificando bastante profundamente a cultura da
organização escolar, não só em escala de sala de aula, mas também de
estabelecimento”.(PERRENOUD, 1999,p152).
Embora
a avaliação do sistema escolar tenha o objetivo de diagnosticar as dificuldades
no processo de ensino praticado pelas escolas e propor mudanças necessárias
para se atingir um nível de qualidade; não se pode negar que existe uma relação
de forças e uma arbitrariedade por parte do sistema educacional a qual a escola
está subordinada, que quer se certificar de que as escolas observam os
programas e as regras comuns e atingem um rendimento aceitável.
Segundo
PERRENOUD (1988) é ingênuo acreditar que uma avaliação científica, ou, digamos,
uma avaliação que se sirva da pesquisa em educação, possa escapar inteiramente
aos jogos do poder e aos interesses dos atores nas escolas ou no sistema
educativo, (...) a avaliação é ameaçadora para aqueles que têm alguma coisa a
dissimular.
“Não há avaliação puramente”científica" dos estabelecimentos
escolares. A avaliação de uma escola é uma prática social que consiste em
construir uma representação de seu valor em relação a outras escolas
comparáveis, a uma norma abstrata ou a objetivos escolhidos por ela ou a ela
atribuídos. Certamente, a avaliação pode emprestar do método científico uma
parte de seus instrumentos, de seus procedimentos, de seu rigor. Ela se mune
então de uma racionalidade e, portanto, de uma legitimidade que, na aparência,
aumentam sua neutralidade, o que serve, quer se queira quer não, aos interesses
dos atores aos quais uma representação reputada "inatacável" da
realidade fornece argumentos suplementares.” (PERRENOUD, 1988).
O
SIMAVE não pode ser usado apenas para colocar o problema da
educação em termos metodológicos (abordagem qualitativa ou quantitativa), não
somente porque ambas as abordagens são complementares, mas porque a questão da
avaliação dos estabelecimentos escolares é, primeiramente, ética,
epistemológica e estratégica, portanto, seus resultados não devem ser usados
apenas para a racionalização das dificuldades apresentadas no processo
avaliativo. Tentando dar à classe política e à
opinião pública a impressão de que a orientação escolar é feita de maneira ao
mesmo tempo imparcial, humana e racional.
O
que se pode esperar de um processo avaliativo tão amplo e importante como o
SIMAVE é que os sujeitos principais do processo educativo, quais sejam, os
professores, gestores, alunos, pais e principalmente o Estado, compreendam os
resultados obtidos como um norteador não só teórico, mas que suscite ações e
investimentos financeiros (Estado) se necessário for para a formação e
qualificação dos profissionais da educação e também em estruturas físicas dos
estabelecimentos de ensino, visando garantir a oferta e democratização de um
ensino de qualidade para a sociedade.
“O importante, na democratização do ensino, não é” fazer como se
“cada um houvesse aprendido, mas permitir a cada um aprender. Quando não se
consegue isso, a solução não é esconder a cabeça na areia, mas reconhecer um
fracasso, que é, primeiramente, o da escola, para melhor “retomar o trabalho”.
Aí está a verdadeira clivagem: frente a desigualdades de aquisição e de níveis
escolares devidamente constatados, uns baixam os braços e invocam a fatalidade
e os limites da natureza humana, outros buscam novas estratégias...“
(PERRENOUD, 1999, p165).
Referências:
PERRENOUD, Philippe. Avaliação. Da
Excelência à Regulação das Aprendizagens. Entre Duas Lógicas. Porto Alegre:
Artmed, 1999.
PERRENOUD, Philippe. A Avaliação
dos Estabelecimentos Escolares: um Novo Avatar da Ilusão Cientificista?
(Artigo). Genebra: Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade de Genebra, 1998.